Psicologia da Religião

psicologia da religião
psicologia da religião

O que é religião? Para o sociólogo francês, Êmile Durkheim, religião “é um sistema unificado de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, que unem, numa comunidade moral chamada igreja, a todos que as aderem”. Apesar de nem todos entrarem em um consenso sobre o que é religião, sabemos que ela existe desde os primórdios, com o homem pré-histórico. Mas como a psicologia vê a religião? Você sabia que existe a psicologia da religião? Sabe sobre o que ela se trata? 

Portanto, neste texto iremos lhe mostrar a psicologia da religião e os seus estudiosos.

O que é psicologia da religião?

A psicologia da religião é um campo de estudos da psicologia, que foca em estudar o comportamento, as crenças e as experiências religiosas. No entanto, no Cristianismo, a psicologia da religião é um subcampo da Teologia Pastoral

Apesar do nome, a psicologia da religião não estuda a religião em si, mas a o comportamento religiosos, com aspectos cognitivos e afetivos, do ponto de vista da psicologia, com aplicação de princípios e métodos da psicologia. Quando falamos de “comportamento religioso”, é considerado qualquer atitude, individual ou coletiva, que tenha uma referência específica ao divino. 

Além disso, a psicologia da religião também estuda a relação do indivíduo com a religião, a adesão e o afastamento de uma religião, e até os comportamentos não-religiosos. 

É preciso lembrar que que os psicólogos da religião não negam ou afirmam a existência de figuras religiosas. Entretanto, eles querem entender o que leva as pessoas a crer ou não em tais figuras. 

História da psicologia da religião

Desde o início a psicologia da religião busca explicar três coisas:

  1. Apresentar uma descrição dos objetos de investigação, sejam eles rituais religiosos, experiências, atitudes ou condutas.
  2. Explicar de maneira psicológica o porquê da ascensão de tais fenômenos.
  3. Esclarecer os resultados, podendo ser de forma negativa ou positiva.

Não se sabe ao certo quando surgiu a psicologia da religião. Porém, os pioneiros da psicologia e da psiquiatria, desde o início, se interessaram pelo comportamento religioso. 

William James

William James foi um psicólogo e filósofo americano, e é considerado por muitos o criador da psicologia da religião. Seu livro “The Varieties of Religious Experience” é considerado um clássico da área. 

James foi o primeiro a diferenciar religião institucional e religião pessoal. Para ele, a religião institucional refere-se ao grupo religioso, desempenhando um grande papel na cultura da sociedade. Já a religião pessoal, seu ponto de maior interesse, é a qual o indivíduo tem a experiência mística, podendo ser vivenciada independentemente da cultura.

Quando estudou as experiências religiosas pessoais, William James distinguiu a religiosidade de “mente saudável” e de “alma doente”. As pessoas com a mente saudável tendem a ignorar o mal do mundo e focar no bem. No entanto, os indivíduos com predisposição a ter uma religião de alma doente não conseguem ignorar a maldade e o sofrimento. Dessa forma, essas pessoas precisam de uma experiência unificadora, religiosa ou não, para que o bem e o mal de reconciliem.

William James ainda diz que a hipótese do pragmatismo origina da eficácia da religião. Se uma pessoa realiza e acredita nas atividades religiosas, e elas dão certo, a prática parece ser, aos olhos da pessoa, a escolha adequada.

Freud

O pai da psicanálise, Sigmund Freud, explicou a gênese da religião em inúmeros dos seus estudos. No livro “Moisés e o Monoteísmo”, Freud reconstrói a história bíblica com suas teorias. 

Freud ainda diz que a religião é como uma ilusão, “é uma fantasia da qual um homem deve ser libertado para crescer até a maturidade”. O psicanalista ainda vê a ideia de Deus como uma imagem do pai, e a crença religiosa como uma coisa infantil e neurótica. Para ele, a religião é disfuncional e a alina o homem de si mesmo.

Carl Jung

Ao contrário de Freud, o psicanalista Carl Jung adotou uma postura mais solidária à religião e preocupada com a apreciação positiva do simbolismo religioso. 

Jung estudou e considerou a questão da existência metafísica de Deus, sem obter resposta, e acabou adotando um tipo de agnosticismo.

Para Jung é importante que a pessoa adote e desenvolva atitudes religiosas, independentemente do credo, porque, para ele, a principal função da religião é evitar dissociações neuróticas da psique.

Alfred Adler

O psiquiatra Alfred Adler acredita que o ser humano sempre tenta compensar a inferioridade que vê. A religião entra na questão é por meio da crença em Deus, um ser perfeito e onipotente. Esse Deus ordena que as pessoas sejam perfeitas, seguindo as suas “ordens”. Dessa maneira, compensamos as imperfeições e sentimentos de inferioridade quando nos identificamos com esse Deus.

Ainda, segundo Adler, a maneira e nossas ideias de como vemos Deus, são indicadores de como vemos o mundo. As ideias mudam em conjunto com a nossa visão do mundo. Adler complementa que Deus motiva as pessoas a agir, gerando consequências reais para nós e para os outros.

A interpretação psicológica pela psicologia da religião

Desde a criação da psicologia da religião, surgiram inúmeras interpretações de como se dá o fenômeno religioso. O fenômeno religioso é essa adoção ou não do ser humano de um determinada religião. Algumas delas são:

Freud

Para Freud, como foi dito anteriormente, a religião é a projeção infantil da figura paterna. Ele acredita que a religião seja uma ilusão, porque leva o homem a fugir da sua realidade e das contingências humanas, e não porque ela seja má. 

Jung

Já para Carl Jung, a experiência religiosa é resultado do inconsciente coletivo, que é composto por energias dinâmicas e símbolos de significação universal. Ademais, o pensamento junguiano acredita que a experiência religiosa é essencial para o funcionamento harmonioso do psiquismo e auxilia o ser humano a compreender realidades do universo, que são desconhecidas por outras áreas de estudos. 

Gordon Allport

O psicólogo americano, Gordon Allport, acredita que a experiência religiosa é algo estritamente pessoal. Essa experiência está sujeita às leis de evolução psicológica, e, segundo Allport, o aspecto intelectual é mais importante do que o aspecto emocional.

Allport ainda completa que a religião é de suma importância na integração da personalidade do homem. A religião é o esforço do ser humano para se juntar à criação e ao Criador, com o intuito de ampliar e completar a sua personalidade.

Anton Boisen

Anton Boisen foi um estudioso americano, e acreditava que a experiência religiosa tinha a mesma dinâmica que a esquizofrenia. Para ele, tanto a experiência religiosa quanto a esquizofrenia, são tentativas profundas à integração do “eu”. A personalidade, quando se vê ameaçada ao ponto de desintegração, recorre ao método mais eficaz para evitar a catástrofe.

O papel da religião segundo a psicologia da religião

A psicologia da religião, em todos os seus anos de existência, teve 3 hipóteses que ilustram o papel da religião. São elas: hipótese da secularização, hipótese da transformação religiosa e hipótese da divisão cultural.

Secularização

A hipótese da secularização acredita que a ciência e a tecnologia tomarão o lugar da religião. Para essa primeira hipótese, a religião deve estar separada da política, ética e psicologia. 

O filósofo contemporâneo, Charles Taylor, explica que a hipótese da secularização nega a transcendência, divindade e racionalidade nas crenças religiosas.

Transformação religiosa

Alguns desafios enfrentados pela hipótese de secularização levaram a algumas revisões, originando a hipótese de transformação religiosa. Essa hipótese acredita que as tendências ao individualismo e à desintegração individual, resultarão em mudanças na religião. Tais mudanças resultaram numa prática religiosa mais individualizada e espiritualmente focada. 

Divisão cultural

Como resposta à hipótese da transformação religiosa, o cientista político americano Ronald Inglehart elaborou um tipo de hipótese da secularização renovada.Seu argumento se baseia na premissa que a religião só se desenvolve para que a necessidade de segurança do homem seja preenchida. 

Essa hipótese, de certa forma, explica o porquê da religião ter sido deixada em segundo plano em países desenvolvidos, e em países em desenvolvimento ainda ser algo, de certa forma, primordial. A insegurança social, econômica e cultural auxilia para o protagonismo da religião.

Religião e psicoterapia segundo a psicologia da religião

A conduta e a crença religiosa dos pacientes têm sido cada vez mais consideradas para o tratamento com psicoterapias. Dessa forma, acabou surgindo a psicoterapia teísta, que consiste em princípios teológicos, visão da personalidade e da psicoterapia teísta. 

Por conseguinte, os psicoterapeutas tentam minimizar o conflito reconhecendo e respeitando as visões religiosas do paciente. Ainda existe uma certa discussão no que se trata se o psicólogo pode ou não utilizar no tratamento práticas e princípios religiosos de forma direta, como a oração, a graça e o perdão. 

Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Asa Sul, Brasília – DF, Brasil.

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