Adoção: quando e como contar?

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Adoção

É muito comum os pais apresentarem dúvidas sobre qual seria o melhor momento para conversar sobre a adoção. Além de como fazê-lo.

Imagine que há algo sobre sua vida que todos sabem, menos você. É algo que poderia mudar sua vida. Que poderia revelar mais sobre você, a peça que faltava para melhor compreender a sua própria história.

Este fato, assemelhado a um roteiro cinematográfico, é o drama de crianças cujos pais adotivos ainda não lhe revelaram suas origens.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) estabelece que toda criança e adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, sob condições biopsicossociais adequadas ao seu pleno desenvolvimento. Acrescenta ainda que a colocação em família substituta se dará por meio da adoção, guarda ou tutela, atendendo aos critérios estabelecidos na Lei.

A entrega da criança pode ser motivada por inúmeras razões. Sejam elas de âmbito emocional; alguns exemplos são o desinteresse no exercício da maternidade; os agravos à saúde física e/ou mental. Ou estrutural, ausência de suporte conjugal e/ou familiar, social ou econômico.

Sob diversas formas, também, a criança vai ao encontro dos adotantes. Através da entrega a abrigos ou a pessoas da confiança da genitora, da negligência, da destituição do poder familiar ou pelo abandono em locais públicos.

Ao passo disso, a escolha pela adoção pode assumir vários significados. Por exemplo, livrar-se da frustração biológica e da pressão social de não poder gerar filhos; completar a família; unir o casal; ou comportar-se consoante valores como empatia e solidariedade. Exercer a maternidade/ paternidade, Sobretudo em casos homossexuais.

Como lidar com a adoção?

Ao descrever este contexto, busca-se identificar as variáveis que atuam e que controlam o comportamento de não conversar sobre a adoção.

As dificuldades relacionadas à adoção perpassam pela forma como o casal concebe e lida com ela. Aqueles que a entendem como algo natural, que lidam de forma adaptativa com as frustrações em torno da esterilidade ou infertilidade.

Ou mesmo que acreditam que a revelação não será a única causadora de um suposto abandono de seu filho são os que tendem a proceder de forma adequada na revelação da adoção.

Pesquisas recentes destacaram as situações que podem trazer dificuldades. Trata-se da revelação tardia  e/ou inadequada; tratamento diferenciado dos pais em relação ao filho por adoção e o filho genético; e vivência de discriminações diretas ou veladas na comunidade ou na escola.

Por sua vez, as situações que favorecem o relacionamento das famílias por adoção são a preparação antecipada dos adotantes; a revelação precoce da adoção; o diálogo aberto sobre a adoção e o colocar-se à disposição caso deseje saber mais informações sobre a origem.

Percebe-se que as maneiras de lidar com a adoção vem mudando com o passar do tempo, sendo praticamente inconcebível a revelação tardia. Aliás, pesquisas tem revelado os efeitos nefastos ao desenvolvimento psicossocial de crianças que souberam de suas origens por outrem, tardiamente ou de modo inadequado.

Por isso, é algo que necessita uma atenção especial e um preparo emocional dos pais. Dessa forma,  a preparação gradual, por amortecer danos, ainda é a melhor solução.

Mas afinal, se a revelação precoce da adoção é um fator de proteção ao desenvolvimento infanto-juvenil, quando e como fazê-lo?

Primeiramente, cabe destacar que à medida que a criança vai se desenvolvendo, ela vai demonstrando interesse quanto à origem da vida.

No entanto, crianças podem ser preparadas quanto à adoção, aumentando a complexidade dos detalhes e da linguagem paulatinamente.

Dessa forma, na primeira conversa, é importante se ater a alguns detalhes essenciais, como o autocontrole emocional. Visto que essa conversa pode eliciar emoções nos pais. Expressões faciais indicativas de desconforto, medo ou ansiedade poderão interferir na compreensão da criança quanto ao que é falado.

As fases de desenvolvimento e a adoção

Antes dos três anos, como as crianças não entendem direito questões sobre nascimento, adoção e diferentes famílias, expressões de afeto são válidas para que uma relação de confiança e segurança sejam estabelecidas. Preparando a criança para outra etapa da revelação.

Já entre três e seis anos, é comum as crianças questionarem sobre sexualidade, sobre como nascem os bebês, de onde ela veio, entre outros fatores. Diante desses perguntas, os pais podem questionar o por quê do interesse e sobre como acha que ocorre.

Nessa faixa etária, pelo nível de desenvolvimento cognitivo que a criança apresenta é possível que ela compreenda o mecanismo de reprodução e adoção. Por isso, pais podem especificar estas questões, sem delongas ou detalhes líricos.

Caso a criança demonstre curiosidade em verificar se ela nasceu de sua barriga, basta afirmar e relatar toda a história. Omitindo detalhes irrelevantes para a compreensão dela.

Entre sete e doze anos, por sua vez, está em uma faixa etária na qual metáforas como “filho do coração” não são mais suficientes. Pois as crianças conseguem compreender com mais profundidade os conceitos que cercam a adoção.

Com a maior compreensão da criança, também pode haver maior desconforto dos pais quanto à abordagem do tema. Evitar questões ou dar respostas confusas pode deixar transparecer o quão aversivo é o tema para os pais.

Na adolescência, os filhos podem fantasiar sobre a origem dos pais biológicos, desejar mais detalhes. Nesse momento, a companhia dos pais é importante. Porque nessa fase do desenvolvimento existe uma série de fatores biológicos que provocam sensações diversas, assim como há a busca incessante pela identidade.

O desejo do filho de conhecer os pais biológicos é outro fato temido pelos pais adotivos. Entretanto, não necessariamente, implica em possibilidade de reversão da adoção.

Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Asa Sul, Brasília – DF, Brasil

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